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A experiência “New Moves”


Por Karin Dunker, nutricionista

Há algum tempo venho desenvolvendo um projeto de pesquisa com meninas adolescentes de 13 a 14 anos de escolas públicas, o programa ?New Moves? criado por Dianne Neumark-Sztainer, renomada pesquisadora da Universidade de Minnesota, que tem por objetivo prevenir a obesidade e os transtornos alimentares. A pesquisa feita em 10 escolas está na reta final, e em breve teremos publicações sobre seus resultados.  Mas o motivo que me levou a escrever o post sobre esse assunto, é por que gostaria de compartilhar as impressões que não podem ser descritas em um artigo científico, a experiência de lidar com um grupo carente, que vive em uma realidade que desconhecemos, muito além do que imaginamos.

Meninas carentes, de nível socioeconômico baixo, que muitas vezes vivem em condições precárias de moradia, em um ambiente familiar desestruturado, e que em um primeiro momento se interessam pelo projeto pelo simples fato de achar que talvez seja importante cuidar da alimentação e do corpo, mas também por uma atenção que não têm em casa e na escola. São meninas que por algumas horas por semana, recebem atenção, carinho e conforto por parte de uma equipe de nutricionistas, psicólogos e educadores físicos.

É o momento em que podem se expressar, compartilhar uma refeição, conhecer e saborear novos alimentos, sendo que algumas inclusive têm oportunidade de ter uma primeira experiência culinária. Aprendem que comer saudável não é se privar do que é proibido, mas sim pensar sobre as próprias escolhas que podem ser determinantes de uma qualidade de vida na fase adulta.  Aprendem que atividade física não precisa ser chata, que não é simplesmente ir para academia ficar horas malhando, mas que pode ser prazerosa, divertida, trazer bem estar e fazer a diferença em suas vidas.  Também refletem sobre o poder da mídia de determinar o que é um corpo bonito, como as emoções afetam seus comportamentos, a importância de se determinar metas viáveis e realistas quando se pensa na mudança de um comportamento.

Aprendem, mas também brincam, dão risada, criam novas amizades, em um ambiente em que os mediadores estimulam a cooperação, compreensão, expressão de suas ideias, sem julgamentos e criticas.

Oferecer essa possibilidade para esse grupo foi desafiador, e em alguns momentos frustrante, pois sabemos que a realidade social em que vivem muitas vezes impede a perpetuação da mudança de um comportamento, seja na prática da atividade física, na alimentação, na satisfação corporal e autoestima.

Apesar dos desafios e das dificuldades, terminamos essa jornada com a sensação de que fizemos a diferença em suas vidas. Para nós, profissionais da área da saúde, fica um sentimento de que cumprimos nosso papel, que vai além de nossa formação acadêmica conceitual. Afinal, não somos nutricionistas ditadoras de dieta, nem educadores físicos que visam somente o ?fitness?. Ouvimos, prestamos atenção, e tentamos compreender as limitações do contexto de vida destas meninas. Sim, é possível pensar de uma forma diferente, atuar de uma forma diferente, é possível pensar em prevenção, mas para isso é essencial refletir sobre as reais necessidades de um grupo ou indivíduo, confrontando as técnicas tradicionais didáticas, e se abrindo para abordagens inovadoras de atuação.

Se quiser conhecer mais sobre a proposta do New Moves, acesse aqui o site.



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