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A dor escondida na busca pela aparência perfeita.


Por Daiana Garbin, jornalista, autora do livro “fazendo as pazes com o corpo” e do site euvejo.vc

Estou muito preocupada com um fenômeno chamado “harmonização facial”. Dilacera-me ver que mulheres, cada vez mais jovens, estão enlouquecidas aumentando os lábios, modificando completamente o formato do rosto, das bochechas, do queixo, do nariz. Obcecadas em busca de um “rosto perfeito” e completamente impossibilitadas de perceber, ou simplesmente de questionar, se a mudança necessária é mesmo na aparência.

Entristece-me ver que jovens de 19 anos já estão fazendo botox, preenchimento e manipulando suas faces. Atente, não sou contra os procedimentos estéticos, acredito que em alguns casos podem ajudar, entretanto é imprescindível questionarmos a motivação. Eu fiz 3 cirurgias de lipoaspiração na juventude e posso assegurar que nenhuma delas foi por amor ou respeito a mim mesma. Eu fiz por ódio. Na época não tinha consciência disso. Como diz a psicanalista Luciana Saddi, existe “um sofrimento calado entre nós: o constante ódio voltado contra si e contra o próprio corpo. Ódio revestido de preocupações estéticas, de considerações sobre a saúde, e que não se deixa entrever facilmente. Ódio que se confunde com cuidados e se disfarça de amor”.

A relação com a imagem corporal diz respeito a muitas demandas internas e não somente à necessidade de sentir-se bonita. Você enxerga no espelho o que você pensa sobre si mesma. Talvez você julgue o corpo das outras mulheres com base no que pensa sobre o seu corpo. Você construiu a sua imagem corporal com base em tudo que já viveu e, se essa imagem se tornou insuportável para você, pense: será que é a sua aparência que precisa mudar ou é algo dentro de você?

Você pode emagrecer muitos quilos, transformar seu corpo e seu rosto com cirurgias e procedimentos estéticos e, mesmo assim, continuar tendo uma imagem corporal insuportável para si mesma.

Minha intenção com esse texto é tocar o seu coração e dizer para você que a jornada doentia com procedimentos estéticos sem fim, remédios, dietas malucas e cirurgias, vai te machucar. É urgente questionarmos o sofrimento que existe na busca pela “aparência ideal”. Muitas mulheres adoecem em busca de beleza porque acreditam que a “aparência perfeita” proporciona a sensação de pertencimento, aprovação, reconhecimento, amor e felicidade. Sim, a gente adoece de tanto tentar ser plenamente feliz! Não é muito curioso? Ficamos completamente cegas em busca da tal felicidade idealizada: ser suficiente, amada, aceita, reconhecida, pertencer aos grupos que almejamos. Querendo uma vida plena, livre de sofrimento e para lidar com o medo, angústia e a vergonha de não sentir-se boa o suficiente, caímos na perigosa maneira atual de ser feliz: conquistar a “aparência perfeita”.



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