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Afinal, quem somos nós?


Por Marcela Salim Kotait, alimentóloga

Cheguei no consultório e vi um recado da minha secretária pedindo para eu ligar para uma moça interessada em atendimento… Achei estranho e pensei “por que raios a secretária já não agendou?”, mas mesmo assim liguei…

“Bom dia, aqui quem fala é Marcela, sou nutricionista e você pediu para eu entrar em contato. Em que posso ajudá-la?”

“Oi Marcela! Na verdade me indicaram seu nome e quero saber se, de fato, você não é uma nutricionista normal.”

Fiquei muda por uns instantes…, será que não sou normal? Ou será que sou? Não sabia o que responder.

“Calma!” – disse a moça percebendo meu constrangimento – “Quero dizer que você não é daquelas que pedem coisas impossíveis e baseiam o tratamento em poder ou não comer as coisas.”

Ufa! Respirei aliviada e respondi:

“Isso! Não sou normal! Que bom!!!”

Esse diálogo me deixou muito feliz e reforçou meu jeito “anormal” de ser nutricionista. Desde que me formei, me incomoda muito o jeito normal que a nutrição é conhecida pelas pessoas. Acabamos sendo rotulados de xerifes da alimentação, de proibir comidas gostosas, e liberar apenas alfafa e chia. Sempre que tenho oportunidade, seja durante minhas consultas ou em aulas para estudantes e colegas de profissão, digo que nunca, em toda minha vida, comi carboidrato ou proteína, e sempre, sempre mesmo, o silêncio segue minha afirmação. Oras, eu não sei que gosto tem um hidrato de carbono, mas sei que um belo sanduíche com pão crocante e carne mal passada faz minha boca salivar. A diferença é que os nutricionistas, na maioria das vezes, estreitam a relação do nutriente com a comida da maneira mais cruel, esquecendo que nosso papel fundamental é melhorar a relação das pessoas com os alimentos e não piorá-la.

Estudos mostram que a quantidade de informações disponíveis sobre nutrição é gigante, mas que a maioria das pessoas não sabe como usá-las e acabam criando aversões e reforçando crenças do tipo mais superficial, como aquela baboseira velha conhecida de todos nós de que “o que é bom sempre engorda”.

Já pensei em mudar os escritos no meu cartão de visitas, ao invés de nutricionista, tenho vontade de colocar “ALIMENTÓLOGA”, por que acredito que o trabalho e valor do profissional de nutrição vai além da nutrição celular e engloba a maravilhosa relação do ser humano e o primeiro pedaço do bolo de aniversário do seu melhor amigo. Vai além da queima de gordura e das calorias marcadas na esteira. Consiste em valorizar a sopa quentinha que sua avó faz nos dias frios e a deliciosa salada de aspargos no verão.

Ser nutricionista, ou melhor, alimentóloga, é a profissão mais linda que conheço. É preciso divulgar nosso trabalho sem o foco marqueteiro do corpo perfeito, do perca mil quilos em dois dias, e sim, que somos capazes de ajudar as pessoas a melhorar sua relação consigo mesmas, fazendo com que consigam amar seu corpo e amar comida.



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