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Diabetes e transtorno alimentar: é mais comum do que você imagina


Por Ana Carolina Pereira Costa, nutricionista

Muito já se falou aqui no blog sobre as consequências negativas – e por vezes desastrosas – de se viver com um transtorno alimentar (TA), especialmente quando não tratado por equipe especializada. E quem conhece alguém que tem diabetes também sabe que não é nada fácil conviver com essa doença crônica, que pode contribuir com o surgimento de vários danos à saúde quando não está bem controlada.

O que dizer, então, dos indivíduos que sofrem com ambas as patologias?

Diversos estudos científicos já mostraram que a prevalência de TA em jovens com diabetes tipo 1 (DM1) pode ser oito vezes maior do que naqueles sem a doença1. Além disso, em adolescentes com DM1, o risco de desenvolver um TA é 2,4 vezes maior do que em adolescentes sem diabetes2. Além da gravidade inerente às duas doenças, quadros comórbidos são especialmente preocupantes pois muitos indivíduos acabam manipulando a aplicação de insulina com o intuito de perder peso, mesmo sob o risco de complicações glicêmicas, coma e até mesmo morte.

Alguns fatores de risco para TA estão comumente presentes na população com DM1: perfeccionismo, necessidade de controle, baixa autoestima (influenciada pelo impacto de se viver com uma doença crônica como o diabetes, bem como uma não-aceitação do quadro) e, de particular relevância para os nutricionistas, perda/reganho de peso ao diagnóstico* e rígido controle alimentar precipitado pelo tratamento convencional do diabetes.

Ao atender um paciente com DM1, é importante investigar e abordar todos esses fatores de risco, particularmente aqueles que dizem respeito às crenças e atitudes alimentares. Quem estuda e trabalha com educação em diabetes sabe que pessoas com a doença podem levar a vida com muita qualidade e bem-estar e sem restrições alimentares desnecessárias. No DM1, em especial naqueles que utilizam a contagem de carboidratos, até mesmo o consumo de açúcar (sacarose) é possível. Ou seja, aqueles que desejam trabalhar com essa população têm que se capacitar da melhor forma possível para que sua atuação clínica não seja iatrogênica e contribua com o surgimento dos TA. Além disso, profissionais devem ficar atentos a sinais que podem já indicar um TA: omissão da aplicação de insulina (questionar o paciente sobre isso!) e parâmetros glicêmicos ?perfeitos? ou muito descontrolados, que podem ocorrer devido à intensa restrição alimentar ou à presença de compulsões.

* Quando o pâncreas para de produzir insulina, o corpo tenta compensar a hiperglicemia por meio do aumento da diurese e acaba havendo também uma quebra de moléculas de proteína e gordura para gerar energia. Dessa forma, pode haver inicialmente uma diminuição no peso corporal, que volta a se estabilizar a partir do momento em que a insulina é introduzida no tratamento.

1. Colton et al., 2004. Disturbed eating behavior and eating disorders in preteen and early teenage girls with type 1 diabetes. Diabetes Care, v. 27, n. 7.

2. Jones et al., 2000. Eating disorders in adolescent females with and without type 1 diabetes: cross sectional study. BMJ, v. 320.



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