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Dissonância cognitiva em tempos de COVID-19. É normal sentir desconforto!


Por Pedro Henrique Berbert de Carvalho, profissional de Educação Física (@phd.pedrocarvalho)

Ei, você aí! Como está se sentindo nessa nova era por mim denominada “Pós-COVID-19?”. São muitas mudanças, não é mesmo? Tem sentido algum desconforto? Mudou sua forma de se relacionar com seu corpo e com a comida? Tem pensado em muitas coisas e sentido insegurança? Calma, é normal sentir desconforto! Vou explicar…

Todos nós crescemos e construímos uma série de conceitos sobre determinadas coisas e objetos. “Correr é legal, caminhar não”. “O melhor lugar para se exercitar é ao ar livre”. “Não posso comer isso durante a semana. Engorda. É pecado!”. Pois é. A esses conceitos, que prefiro chamar de crenças, atribuímos significado. E acompanhado dele, sentimentos.

Todas as vezes que novas informações chegam, colocamos em xeque o que acreditamos/pensamos. Sentimos desconforto. Quanto mais forte a nossa crença em algo, mais forte será o desconforto sentido após ouvir uma crença contrária. Em tempos de quarentena, especialistas em exercício físico recomendam evitar aglomerações: “Exercite-se em casa!”. E você pode estar pensando: “Aaaahhh, mas eu amo ir à academia. Malhar em casa não adianta!”. É assim mesmo. Repito: É normal sentir desconforto!

Em 1957, Leon Festinger teorizou que, quando um indivíduo possui duas ou mais crenças que são relevantes uma para a outra, mas inconsistentes uma com a outra, um estado de desconforto é criado. A esse desconforto ele deu o nome de Dissonância. Daí o nome “Dissonância cognitiva”. Ou seja, quando há dissonância, existe um “desconforto psicológico”, o que nos motiva reduzir a dissonância e pode nos levar a evitar informações susceptíveis de aumentá-la. Vale destacar que, quanto maior a magnitude de dissonância, maior é a pressão para reduzi-la.

Então voltamos ao ponto inicial. Após a Organização Mundial de Saúde declarar pandemia de COVID-19 todos nós passamos a vivenciar MUITAS mudanças em nossas vidas. Todos os dias somos literalmente bombardeados de informações pela televisão e mídias sociais. Dicas de como se exercitar em casa. Lista de alimentos que se deve comer, ou não comer, para aumentar a imunidade. Medicamentos “milagrosos” para uma doença viral nova. Enfim, você sabe bem tudo isso, não é?

Muitas dessas informações podem ser contrárias às suas crenças, o que vai gerar desconforto em você. Não se preocupe. Podemos reduzir a dissonância adicionando cognições consoantes, subtraindo cognições dissonantes, aumentando a importância das cognições consoantes, ou mesmo diminuindo a importância de cognições dissonantes.

Se estiver sentindo muito desconforto experimente evitar esse exagero de informações. Experimente também vivenciar coisas novas e que não se permitia até então. Nem tudo na vida é só bom, ou só ruim! Perceba a ambivalência! Exercício físico em casa pode ser prazeroso. Distanciamento social pode te colocar em maior contato consigo mesmo. Home-office, webconferências e reuniões online podem te despertar para um novo conjunto de tecnologias e possibilidades de trabalho e interação social. Estar em casa é uma oportunidade para aprender a cozinhar, comer com atenção plena, sem pressa, e para focar em seus sinais internos de fome e saciedade.

Eu sei que não é fácil. Juro! Estou a exatos 45 dias em isolamento social, como muitos de vocês. Tenho cozinhado mais, feito exercícios em casa, estou trabalhando a distância e encontrando amigos por vídeos-chamada. Acredite: você pode aprender coisas novas, mudar crenças, sentir vibrações positivas. Permita-se. Sinta seu corpo. Esteja aberto a novas experiências com o menor grau de julgamento possível. Apenas vivencie.

E aí, como você vai enfrentar esse desconforto?

 

Referências

Harmon-Jones, E., & Mills, J. (2019). An introduction to cognitive dissonance theory and an overview of current perspectives on the theory. In E. Harmon-Jones (Ed.), Cognitive dissonance: Reexamining a pivotal theory in psychology (p. 3–24). American Psychological Association.

Harmon-Jones, E., & Harmon-Jones, C. (2007). Cognitive dissonance theory after 50 years of development. Zeitschrift für Sozialpsychologie38(1), 7-16.



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