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Em defesa do guia alimentar


Por Manuela Capezzuto, nutricionista

Em meados de setembro, acordamos com a notícia de um ofício encaminhado pela Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, ao Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, solicitando a urgente revisão da segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira. Lembro das mensagens de indignação e desesperança dos vários grupos de nutricionistas, estudantes e profissionais de saúde.

Se você não conhece esse documento produzido em 2014 pelo Ministério da Saúde, vale a pena investir seu precioso tempo:  https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf

O ofício em questão critica a classificação de alimentos utilizada pelo Guia e a recomendação quanto a evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, alegando que “…existem alimentos processados que contribuem com uma ampla variedade de nutrientes em todos os níveis de processamento”. Porém, o próprio guia na verdade enfatiza os benefícios do processamento de alimentos – como ampliar sua duração e diversificar a dieta da população – recomendando apenas que se evite o consumo de ultraprocessados. Essa recomendação é baseada em cinco revisões sistemáticas, além de uma revisão narrativa e um ensaio clínico controlado sobre dietas ultraprocessadas realizado no maior centro de pesquisas em saúde do mundo.

Considerado um exemplo a ser seguido por nada menos que a FAO, OMS e UNICEF, também serviu de inspiração para os guias alimentares e políticas de alimentação e nutrição do Canadá, Peru, Equador, França e Uruguai. Entretanto, para nossa surpresa o ofício alegou que “…atualmente o Guia brasileiro é considerado um dos piores [do planeta]”.

O guia leva em consideração as inúmeras mudanças culturais, sociais, políticas e econômicas que o Brasil passou e que transformaram o modo de vida da população. Se por um lado o nosso país teve redução das desigualdades sociais e da mortalidade infantil, também experimentamos aumento das doenças crônicas que atualmente representam a principal causa de morte entre adultos. Para a segunda edição o guia ainda contou com uma consulta pública que possibilitou um maior debate com setores da sociedade.

Para além da excelência da parte técnico-científica, é um guia colorido, repleto de imagens que ilustram e concretizam porções e combinações alimentares, sempre respeitando a regionalidade e hábitos tradicionais brasileiros.

O documento conta com cinco princípios que orientam sua elaboração, sendo eles: alimentação é mais que ingestão de nutrientes; recomendações sobre alimentação devem estar em sintonia com seu tempo; alimentação adequada e saudável deriva de sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável; diferentes saberes geram conhecimento para a formulação de guias alimentares e guias alimentares ampliam a autonomia nas escolhas alimentares. De forma sucinta ele também.

A simplicidade é o que dita o nosso guia, o arroz, feijão, carne e salada, as frutas da época e a regionalidade. É o tal do simples que virou complexo e dispendioso. Aliás, ele também reserva um capítulo que discute a “compreensão e a superação de obstáculos” para se comer bem, como a falta de tempo, o custo e oferta dos alimentos e a exposição massiva à publicidade, apresentando dicas diretas do que fazer em cada caso.

Isso é um apelo! Assim como o SUS o Guia Alimentar para População Brasileira é também uma preciosidade do país, ajude-nos a defendê-lo.

https://www.asbran.org.br/noticias/nupens-usp-publica-manifestacao-sobre-ataques-ao-guia-alimentar

https://www.fsp.usp.br/nupens/nota-oficial/

https://www.fsp.usp.br/nupens/o-que-e-o-guia-alimentar/

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf



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