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Foco, força e fé… Será?


Por Ana Carolina Pereira Costa, nutricionista

“De você depende a ação; de você não dependem os frutos da ação”. Essa é uma frase do Bhagavad Gita – obra importante do Hinduísmo – que tive o prazer de ouvir esse final de semana no curso de formação de instrutores de meditação daAssociação Palas Athena. Essa frase me tocou e fez todo sentido para mim, que trabalho com transtornos alimentares e obesidade, pois eis a verdade que entendi ao longo desses anos de prática: perder peso não depende inteiramente de nós.

(Não pare de ler esse texto ainda! Vou tentar ser mais clara.)

Nossas ações dependem essencialmente de nós, como a frase do início diz. Podemos por meio de esforço, planejamento, atenção, autoconhecimento e gentileza conosco mesmo mudar nossos comportamentos e adotar novos hábitos: dormir mais/melhor, comer mais vegetais e frutas, beber mais água, ter uma rotina mais fisicamente ativa, preferir alimentos integrais, cuidar da nossa saúde mental e social… Todos estes comportamentos estão associados a processos de emagrecimento.

Mas aí é que está o “pulo do gato”: mesmo que cada um de nós acabe se engajando em todas estas ações, não se pode garantir que todos – ou mesmo alguns de nós! – vamos perder peso, ou perder da mesma forma. Essa é uma das razões pelas quais, inclusive, o novo Código de Ética do Nutricionista (2018) proíbe fotos de “antes e depois” nas redes sociais, pois tratamentos e estratégias nutricionais podem não apresentar o mesmo resultado para todos e as imagens podem oferecer risco à saúde por trazer expectativas irreais aos pacientes.

Trocando em miúdos: você dormir mais/melhor, comer mais vegetais e frutas, beber mais água, ter uma rotina mais fisicamente ativa, preferir alimentos integrais, cuidar da saúde mental e social… E ainda assim não sofrer nenhuma mudança corporal no âmbito estético!

Já são inúmeros os dados científicos que comprovam que a regulação do nosso peso e composição corporais sofrem influência de diversos fatores, alguns destes fora do nosso controle ou acesso. Sabe-se por exemplo que as espécies de bactérias que compõem nossa microbiota intestinal podem mediar nosso ganho ou perda de peso, por meio da absorção distinta de nutrientes e produção de substâncias anti-inflamatórias. Até mesmo poluentes do ar e resíduos de agrotóxicos nos alimentos são capazes de influenciar o armazenamento e a metabolização de gordura em nossas células!

Não estou querendo dizer que devemos então “desistir” de nossos corpos. Pelo contrário: o convite é respeitarmos cada vez mais essa fantástica morada do nosso ser para que possamos então cuidar dela da melhor maneira possível. Mas sempre focando naquilo que é acessível a nós, ou seja, os comportamentos. Os resultados – quaisquer que sejam eles – virão, a seu tempo.

Como diz a oração da serenidade: que possamos ter coragem para mudar aquilo que podemos mudar, serenidade para aceitar as coisas que não podemos, e sabedoria para distinguir umas das outras.



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