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Não dê remédios para emagrecer a adolescentes


Por Camilla Estima, nutricionista convidada

Diariamente escuto no meu consultório mulheres na faixa dos 30 e poucos anos me contando a história de sua alimentação ao longo da vida. Sempre começamos uma linha do tempo alimentar, desde a infância até os dias atuais e se eu for apostar provavelmente vou ganhar: a grande maioria dessas mulheres iniciou a sua saga de dietas na adolescência. Muitas vezes impulsionada por algum familiar, que a levou a um profissional de saúde para emagrecer.

Qual o PROBLEMA disso? Após a vida intrauterina e a primeira infância, a adolescência é o terceiro momento na vida de um indivíduo onde há maior necessidade de energia e nutrientes para que haja um crescimento e desenvolvimento físicos adequados. Há um processo natural, obrigatório e necessário onde o corpo de criança tem que se tornar um corpo de adulto, isso tudo em um curto espaço de tempo. Para que isso aconteça, a pessoa PRECISA comer! Sim, a fome aumenta pois é a estratégia que o corpo utiliza para que você consiga atingir toda essa demanda nutricional.

As mudanças corporais nessa fase são totalmente necessárias e esperadas, e elas vão acontecer com todo mundo.  Mas o que na prática realmente acontece? Pela pressão do padrão corporal (magro) imposto nas últimas décadas, junto com as mudanças psíquicas dessa fase e pressão social o jovem se vê encurralado e acredita que tem que frear essas mudanças. Então, apoiado ou mandado mesmo pela família e com aval de um profissional de saúde, começa a desregulação dos sinais internos de fome e saciedade que os remédios proporcionam, e ai inicia a vida de dieta. Agora imagine só, o corpo clamando por comida para atingir as demandas nutricionais e contra tudo isso vem uma série de estratégias para fazer esse indivíduo parar de comer!

O controle dos sinais internos da fome e da saciedade a partir do uso de medicamentos gera uma grande desregulação. O indivíduo tem dificuldade para identificar o momento que deve comer, não responde à saciedade para parar e quanto mais medicação houver, mais distante de si mesma a pessoa se vê. E pior, isso continua para o resto da vida. E hoje essas mesmas mulheres se vêem aprisionadas em dietas, fórmulas para emagrecimento, terceirizando cada vez mais as suas escolhas alimentares a profissionais passam a decidir o que elas vão comer, quando devem parar de comer, enquanto que a fome mesmo e saciedade elas nem sentem (ou pelo menos não percebem). Tudo isso por uma não aceitação das mudanças corporais quando eram tão jovens. E hoje, ao questioná-las como eram seus corpos na idade que essa desregulação imposta começou a grande maioria também me relata: olho fotos da minha adolescência e eu nem era gorda como na época eu achava que era!

Assim, o dia que os jovens, suas famílias e também os profissionais de saúde forem conscientizados de que as mudanças corporais que acompanham a adolescência são normais e necessárias, e que os padrões corporais baseados na magreza são uma grande armadilha para insatisfação corporal, início da saga das dietas e desregulação interna, essa prática poderá ser extinta. Cabe a todos nós estimularmos os jovens a entenderem e amarem os seus corpos da forma como eles são, sem necessidade de padronização baseada em metas inatingíveis e permeadas por estratégias nada saudáveis.



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