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O dilema do onívoro (no século XXI)


Por Maria Luiza Petty, nutricionista

O dilema do onívoro foi um termo proposto pelo pesquisador Paul Rozin para um paradoxal fenômeno vivido pelos seres humanos. Para a nossa espécie, a variedade alimentar é fundamental para que a gente obtenha os 41 diferentes nutrientes essenciais à nossa vida. Entretanto, a necessidade desta variedade nos torna mais suscetíveis ao envenenamento ou intoxicação ao ingerir algo que não é comestível.

Alguns dos nossos sentidos trabalham no sentido de amenizar este dilema. Ao sentir (por meio do paladar) um gosto amargo, por exemplo, nossa tendência natural é de rejeitar o alimento. Se nossas células olfativas reconhecem aromas extremamente desagradáveis, nem levamos o alimento à boca. Além disso, o mecanismo de neofobia (recusa por alimentos novos) também atua para regular este paradoxo. Mas, provavelmente, os fatores que realmente contribuem para que as pessoas escolham comer comidas e não outras coisas são a experiência e a observação de ver o que os outros estão comendo.

Todos esses mecanismos estão presentes no ser humano, mas no nosso dia-a-dia atual nenhum de nós precisa se perguntar se algo é comestível ou não. Os alimentos estão nos supermercados, feiras e dentro das nossas casas. Apesar disso, nos dias de hoje, há muito dilema na escolha alimentar do onívoro humano. As pessoas se dizem cada vez mais indecisas em relação ao que comer. E isso não poderia ser diferente em um mundo em que há tanta informação sobres os alimentos e comidas. As informações fogem do ser ou não ser comestível e passam a um nível muito mais complexo. Um alimento pode ser ou não ser ?saudável?, pode ser fonte de ?gorduras boas? ou ?más?, pode conter ?calorias vazias?, pode ser rico em selênio, pode conter gordura trans, pode ser transgênico, orgânico, caseiro, super processado, calórico, diet, vegano, sem glúten, sem lactose e até low fat. Os alimentos podem ter certificação de alimento justo, podem não vir de uma produção sustentável, podem ser produzido por trabalho infatil, etc, etc, etc.

Atualmente, quantos fatores não estão atrelados a um único alimento? Eu citei alguns acima, mas há muitos outros, peculiares a cada realidade (preço, praticidade, religião, etc). Como fazer uma escolha diante de tanta informação? E como não tornar um dilema a escolha entre o que eu estou com vontade de comer (o que me dá prazer ao comer) e o que a minha cognição entende – ou é iludida – sobre o que eu deveria comer para ser ?saudável?, ?eternamente jovem? ou ?socialmente justo??

Parece que a expressão dilema do onívoro nunca foi tão atual.



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