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O NOVO CORONAVÍRUS E ORTOREXIA NERVOSA


Por Alexandre Pinto de Azevedo, psiquiatra

Inicialmente chamada de 2019-n-CoV, a infecção provocada pelo novo coronavírus recebeu o nome oficial de COVID-19 em fevereiro/20, abreviação do termo “doença por coronavírus” em inglês (coronavirus disease 2019). Foi identificado pela primeira vez em dezembro de 2019 na cidade de Wuhan na China e com primeiro caso confirmado no Brasil ao final de fevereiro de 2020. As investigações sobre transmissão do novo coronavírus ainda estão em andamento e neste momento está bem estabelecida transmissão por contato com secreções. Ocorre de forma continuada, ou seja, um infectado pelo vírus pode passá-lo para alguém que ainda não foi infectado.

A transmissão costuma ocorrer por contato pessoal com secreções contaminadas, como através de gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão com pessoa infectada, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos. Não há evidência de transmissão através dos alimentos em si, mas considerando a manipulação deles por outras pessoas, basta que os alimentos e as embalagens que chegam em casa sejam adequadamente higienizados com solução de hipoclorito de sódio ou similar.

Contudo, há uma população em especial que pode estar sofrendo ainda mais: os portadores de ortorexia nervosa (ON). É o que acontece quando uma alimentação saudável é posta ao extremo e quando um comportamento aparentemente positivo sobre o cuidado com a saúde torna-se prejudicial e adquire níveis patológicos. Esse é o fenômeno da ortorexia nervosa (do grego: ortós = correto, órexis = apetite), descrito como uma fixação patológica em alimentação “entendida como” saudável. É possível identificar uma preocupação patológica com a alimentação, como forma de garantir saúde, apesar da evidência de consequências adversas emocionais, como estresse ou ansiedade, diante da ameaça ou descumprimento de regras alimentares autoimpostas, restrições psicossociais em áreas significativas da vida, restrições alimentares levando à desnutrição e perda de peso (não deliberado). É possível que as as taxas de prevalência estejam entre 1% e 7% em amostras da população em geral. Apesar de sua relevância epidemiológica, a ON não está incluída na 5ª edição do DSM (Associação Americana de Psiquiatria 2013), nem na 11ª versão CID (OMS 2018). Várias propostas de critérios foram consideradas para diagnosticar a ON, contudo a ausência de critérios uniformes, além de instrumentos utilizados apresentarem baixa qualidade psicométrica, dificultam este consenso.

Diante da ameaça de contaminação pelo COVID-19 e com a obsessão de consumir alimentos puros e saudáveis, é possível que os portadores de ON aumentem ainda mais suas exigências sobre a maneira de como o alimento foi produzido, transportado e manipulado, acreditando ainda que se possa ter este nível de controle sabidamente não saudável do ponto de vista emocional e, muitas vezes, indiferente do ponto de vista médico-nutricional. Lembrando que na ON esta necessidade de selecionar os alimentos ganha uma proporção obsessiva, tornando-se uma “fixação por uma dieta saudável”, restringindo-se cada vez mais aos alimentos que ele acredita serem saudáveis, utilizando critérios pouco científicos nesta escolha.

Neste momento atípico de pandemia do novo coronavírus é importante termos um cuidado maior com a higiene de maneira geral e com a dos alimentos que compramos e trazemos para casa. Os cuidados usuais de higienização já amplamente utilizados garantirão que se possa manter as escolhas alimentares habituais sem insegurança. Evite restrições e aproveite para melhorar sua diversidade alimentar, com leveza e sem obsessões.

 

FONTES

https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019

https://www.saopaulo.sp.gov.br/coronavirus

Strahler, Jana & Stark, Rudolf. (2020). Perspective: Classifying Orthorexia Nervosa as a New Mental Illness—Much Discussion, Little Evidence. Advances in Nutrition. 10.1093/advances/nmaa012.



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