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O Perigo dos Comentários Sobre Peso e Forma Corporal Dentro de Casa


Por Juliana Bergamo

Você comenta sobre o seu peso na frente do espelho de casa, se auto depreciando e diz constantemente que precisa emagrecer? Ou você é aquele tipo de familiar que, preocupado com aquela criança, quer ajudá-la, comentando sobre o corpo dela, incentivando-o a buscar alguma estratégia para perder peso? Se a resposta for sim, sugiro repensar!

Em 2016 a Academia Americana de Pediatria publicou o seu posicionamento a respeito de estratégias de prevenção de obesidade e transtornos alimentares em crianças e adolescentes, em uma revista de alto impacto na área da pediatria, a Pediatrics. A partir de uma importante revisão da literatura, alguns fatores de risco foram identificados associados tanto ao excesso de peso quanto ao aparecimento de transtornos alimentares em crianças e adolescentes.

Entre estes fatores estão o intenso desejo por emagrecimento que leva à prática de dietas restritivas, a irregularidade de refeições em família, baixa autoestima e falas sobre o peso e forma corporal dentro de casa. O chamado “Weight Talk” em português “conversas sobre peso”, refere-se a comentários por membros da família sobre seu próprio corpo ou sobre o corpo das crianças que incentive a perda de peso e a prática de dietas. O texto reforça que, mesmo aqueles comentários “bem-intencionados”, podem ser prejudiciais em crianças e adolescentes.

Uma série de estudos, segundo aponta o documento, associam o “Weight talk” praticado pelos familiares a comportamentos não saudáveis para controle de peso, prática de dietas e compulsão alimentar em crianças e adolescentes. Aqueles que experimentam provocações sobre seu peso ou forma corporal por seus familiares apresentam duas vezes mais chances de se tornarem sobrepeso ao longo de 5 anos. Além disso, tais comentários podem contribuir para uma maior insatisfação corporal e baixa autoestima, que também estão associadas a comportamentos não saudáveis de perda de peso, maior prática de dietas restritivas, compulsão alimentar e redução de atividade física. Estes comportamentos geram intenso sofrimento físico e psíquico para uma faixa etária que se encontra em pleno crescimento e desenvolvimento.

O grande paradoxo que se coloca frente a essas evidências é pensar que todas essas estratégias e comportamentos que são adotadas para “combater” a obesidade infantil, na realidade, tem o efeito contrário: provocam um maior ganho de peso e maior risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares, além de todo o sofrimento que deixam marcas profundas nessas crianças.  Deixo aberta a reflexão para todos nós, como familiares ou como profissionais de saúde, se o que estamos assumindo como prevenção/cuidado/tratamento da obesidade não é, na verdade, um dos fatores que contribuem para o aumento da prevalência dessas doenças que estamos acompanhando nos últimos anos, em idades cada vez mais precoces. O famoso lobo em pele de cordeiro!

Artigo completo: Golden NH, Schneider M, Wood C, AAP COMMITTEE ON NUTRITION. Preventing Obesity and Eating Disorders in Adolescents. Pediatrics. 2016;138(3):e20161649.



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