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Onde tem fumaça tem fogo!


Por Rogéria Taragano, psicóloga

Sempre que viajo, entro em livrarias para folhear autores que me inspirem a ajudar meus pacientes, com estratégias alternativas. Recentemente, na Califórnia (EUA), encontrei um interessante livro, no qual o Dr. Arnold Andersen1, psiquiatra e psicoterapeuta, cita fábulas e histórias que utiliza durante suas sessões de atendimento com pessoas com algum tipo de transtorno ou problema em relação à alimentação. Comento a seguir uma delas, que achei bem apropriada para quem enfrenta problemas de compulsão alimentar e/ou bulimia nervosa.

A história dizia respeito a uma jovem que estava preparando algo na cozinha, quando resolveu dar uma volta com seu cachorro. Ao voltar ela ouviu o alarme do detector de fumaça e decidiu interromper aquele forte ruído quebrando o aparelho com uma vassoura. Em pouco tempo havia muita fumaça e um incêndio destruiu a casa. Na sequência desta história o autor destaca que, na vida real, em geral, ninguém vai atacar o detector por ele estar sinalizando que algo está queimando. O Dr. Andersen sugere que um paciente com bulimia nervosa, por exemplo, que sente a necessidade premente de ter uma compulsão, poderia entendê-la como um importante instrumento de sinalização. Ele pergunta o que fazemos quando o alarme do detector dispara e afirma que este serve para investigarmos o que está acontecendo e descobrirmos de onde vem a fumaça. “Quando apagamos o fogo, o alarme cessa. Não porque o detector foi quebrado, mas porque a fonte, responsável pelo sinal, foi removida.” Ele conclui dizendo que, da mesma forma, uma compulsão pode ser resultado de fome e de hábito, mas que, na maioria das vezes, sinaliza que o “fogo” ou desconforto emocional está ardendo. Pondera que há um problema que está emitindo “fumaça”, e ele pode ser: ansiedade, raiva, depressão, tédio, tristeza, solidão, etc.

Concordo com o autor, quando este comenta que muitos pacientes podem se beneficiar de se tornarem observadores ativos dos seus “detectores de fumaça” (impulsos compulsivos), investigando de onde vem o sinal e o que ele representa, em vez de sair correndo para dar vazão a uma compulsão. Sabemos que enfrentar frustrações e mal estar com comida tende a gerar “quilos emocionais”, frustração e sentimentos de culpa, comprometendo ainda mais a saúde física e emocional. Desconsiderar as compulsões, simplesmente aderindo a uma dieta restritiva teria um efeito ainda pior, postergando a solução do problema.

Ao invés de interromper o impulso da compulsão comendo em exagero o importante é parar, refletir e considerá-lo como um sinal de que algum conteúdo emocional precisa ser entendido e enfrentado de maneira mais saudável. Aprender a buscar estratégias adequadas para tolerar e enfrentar essas emoções, por vezes desconfortáveis, seria a próxima etapa a ser apreendida e adotada.

Referência:

1 – Andersen, Arnold E. & Cohn, Leigh. Stories I tell my patients: 101 Myths, Metaphors, Fables & Tall Tales for Eating Disorders Recovery. Carlsbad, CA. Gurze Books, 2016

Créditos de imagem: Fumaça.N.d. Pixabay.com. Pixabay.com. Web. July 2017. .



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