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Um olhar fisiológico sobre o porquê é tão difícil emagrecer


Por Fabiana Benatti, Professora e Bacharel em Esporte e Nutrição

Quantos de nós já emagreceram fazendo alguma dieta, apenas para ganhar os quilos perdidos tão logo ela acabava?

Mesmo sendo “visitante” neste post de hoje, não tenho dúvidas de que muitos posts anteriores aqui do blog já falaram amplamente sobre associação entre a prática regular de dietas restritivas e o maior (não menor!) peso corporal. Dentre os diversos motivos que explicam esse aparente paradoxo, estão a baixa aderência às dietas em longo prazo devido a mudanças excessivas e muitas vezes inatingíveis ou irreais, além da temporalidade das mudanças, ou seja, rapidamente as pessoas voltam aos hábitos que a levaram a chegar onde estão.

Mas além disso, há explicações fisiológicas para a grande dificuldade do ser humano não apenas em perder peso, mas, principalmente, em manter o peso perdido. Algumas dessas explicações foram publicadas em um estudo que saiu na New England Journal of Medicine, renomada revista da área médica. Neste estudo, 50 pacientes obesos ou com sobrepeso foram submetidos a uma dieta de muito baixo valor calórico (~ 550 Kcal por dia) ao longo de 10 semanas. Durante essas 10 semanas, os participantes perderam, em média, 14 Kg de peso corporal. Após essa fase, eles receberam orientação nutricional (e de prática de atividade física) com o objetivo de manterem o peso corporal perdido e, após 1 ano, foram reavaliados.

Os resultados do estudo mostraram que a perda de peso de ~14Kg ao longo das 10 semanas levou à redução significativa dos níveis dos “hormônios da saciedade” (leptina, peptídeo YY e colecistoquinina) e ao aumento significativo do grande “hormônio da fome”, a grelina. Como esperado, essas alterações hormonais foram associadas ao aumento da sensação de fome e da vontade de comer antes e depois de uma refeição.

Mas talvez a os resultados mais interessantes do estudo tenham sido os de um ano após a perda de peso. Apesar das orientações nutricionais e de atividade física, a perda de peso em relação ao início não estava mais em 14Kg, mas em 8 Kg, em média. E o mais impressionante: os níveis dos “hormônios da saciedade” ainda estavam diminuídos e o do “hormônio da fome” ainda estava aumentado. O mesmo foi observado em relação à sensação de fome e da vontade de comer antes e depois de uma refeição, ambas aumentadas (ver figura abaixo).

Fonte: Sumithran e col., 2011, N Engl J Med. 2011 Oct 27;365(17):1597-604.

O que esses resultados mostram? Que o nosso corpo luta contra a perda de peso, sobretudo a perda de peso rápida e substancial. Portanto, antes achar que alguém que não consegue seguir uma dieta muito restritiva em longo prazo é uma pessoa fracassada e sem força de vontade, considere o fato de que há inúmeras explicações não apenas psicossociais, mas também fisiológicas, que dificultam e muito a perda de peso e de gordura corporais.

Dessa forma, é fundamental que nós nutricionistas e profissionais da saúde entendamos que acolher o paciente, de modo a ajudá-lo a superar essas dificuldades, talvez seja muito mais humano e eficaz do que simplesmente culpá-lo por não conseguir seguir a dieta que você elaborou. 😉

Para saber mais:

Sumithran P, Prendergast LA, Delbridge E, Purcell K, Shulkes A, Kriketos A, Proietto J. Long-term persistence of hormonal adaptations to weight loss. N Engl J Med. 2011 Oct 27;365(17):1597-604.

Mann T, Tomiyama AJ, Westling E, Lew AM, Samuels B, Chatman J. Medicare’s search for effective obesity treatments: diets are not the answer. Am Psychol. 2007 Apr;62(3):220-33. Review.

 



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