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Vegetarianismo e risco de transtornos alimentares


Por Karin Dunker, nutricionista

Em tempos de tantas informações e reflexões sobre o que seria uma alimentação saudável, percebemos em nossa prática clínica um aumento de pessoas interessadas em se tornarem vegetarianas ou veganas. Por conta desta percepção do grupo, em nossa última reunião discutimos a questão se ser vegetariano ou vegano significa necessariamente ser saudável. A ideia inicial deste texto, portanto, é apresentar artigos e refletirmos um pouco sobre o assunto.

Um primeiro estudo teve como objetivo identificar em uma amostra representativa de adolescentes e adultos jovens de 15 a 23 anos (n= 2488) dos Estados Unidos os motivos para se tornarem vegetarianos, e sua relação com comportamentos de risco para os transtornos alimentares.  Identificou-se que a frequência de vegetarianismo foi baixa (4,3%) e mais frequente em meninas. Os motivos que levavam à adoção da prática eram relacionados a ajudar o meio ambiente, não querer matar animais, não gostar do gosto da carne e desejar ter uma alimentação mais saudável. Apesar das porcentagens de meninas que consideraram a prática como forma de perder ou controlar peso ser menor, em torno de 17%, comparado com 47 a 66% dos outros motivos, o estudo encontrou porcentagens maiores e significativas quanto ao uso de métodos extremos não saudáveis de controle de peso (ex: medicação para emagrecer, vômitos, laxantes e diuréticos) e a presença de episódios de compulsão alimentar sem controle no grupo de vegetarianos comparado com os não vegetarianos (Robinson-O”Brien et al., 2009).

Um segundo estudo discute a importância de se classificar adequadamente os tipos de vegetarianismo, uma vez que a maioria dos estudos incluem uma análise conjunta entre aqueles que não consomem somente a carne vermelha (semi-vegetarianos) e os que cortam a carne, mas consomem leite e ovos (vegetarianos).  Dois estudos foram apresentados dentro deste mesmo artigo, sendo que um analisou uma amostra com 486 participantes de 18 a 25 anos, que incluiu vegetarianos, semi-vegetarianos, veganos e onívoros, e o segundo 118 indivíduos classificados em semi-vegetarianos e onívoros. Os resultados de ambos os estudos indicaram uma maior pontuação em escalas de avaliação de risco para transtornos alimentares (ex: EAT-26, EDE-Q e Restraint Scale) em indivíduos semi-vegetarianos (Timko et al., 2012).

O último estudo levanta a questão se haveria uma maior prevalência de vegetarianismo em pacientes com transtornos alimentares. Compararam no estudo 3 populações: não clínica, sem comportamentos compensatórios (n=73); subclínica, com presença de jejum, vômitos, laxantes, compulsão alimentar, exercício excessivo (n= 136); e clínica, pacientes com anorexia nervosa, bulimia nervosa, e outros tipos de transtorno Alimentar (n=69). Os resultados indicaram que a prevalência de vegetarianismo é significativamente maior em população clínica atualmente e ao longo da vida, comparado com as outras amostras, sendo mais frequente o do tipo ovolactovegetariano. Uma informação interessante encontrada é que 43,7% da amostra clínica referiu que deixou de ser vegetariana após o início do tratamento, sendo que nos outros grupos as razões não estavam relacionadas à preocupação com peso e alimentação.

Os resultados apresentados indicam que, apesar do vegetarianismo ser uma forma socialmente aceitável de evitar grupos alimentares, de expressar valores e identidade, e ser comprovadamente associado com melhora da saúde, se as escolhas forem adequadas e orientadas no sentido de evitar deficiências, deve-se prestar atenção se essa restrição tem como objetivo a perda de peso. De fato, os estudos indicaram um maior uso de métodos inadequados de controle de peso e de compulsão alimentar em vegetarianos. Portanto, como profissionais, devemos estar atentos e alertas ao relato de pacientes quanto à adoção do vegetarianismo, uma vez que as razões que estão por traz desta escolha podem estar encobrindo uma restrição alimentar com finalidade de mudança corporal, característica de estágios iniciais dos transtornos alimentares.

Referências:

Robinson-O”Brien, R., Perry, C. L., Wall, M. M., Story, M., & Neumark-Sztainer, D. Adolescent and young adult vegetarianism: better dietary intake and weight outcomes but increased risk of disordered eating behaviors. J Am Diet Assoc. 2009; 109:648-655.

Timko CA, Hormes, JM, Chubski, J. Will the real vegetarian please stand up? An investigation of dietary restraint and eating disorder symptoms in vegetarians versus non-vegetarians. Appetite. 2012; 58: 982-990.

Zuromski KL, Witte TK, Smith AR, Goodwin N, Bodell LP, Bartlett M, Siegfried N. Increased prevalence of vegetarianism among women with eating pathology. Eating behaviors. 2015; 19:24-27.



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