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Zona de (Des)conforto


Por Fernanda Timerman, Nutricionista

Carlos trabalha em uma multinacional há 10 anos. Tem uma rotina, sabe o que deve fazer, qual caminho pegar, o que vai comer e quanto vai ganhar no final do mês,
Carlos sabe também que alguma coisa o incomoda muito no domingo a noite. Um sentimento rotineiro, uma angústia, de ter que repetir tudo de novo. Mas, como ele está acostumado com tudo isso, acha que sabe lidar também. Então vai levando… as vezes ele fuma mais quando está ansioso, as vezes ele come até se empanturrar para migrar o incômodo da cabeça para o estômago – pois lá pelo menos o incômoda passa depois de um tempo, de um sal de frutas e um protetor gástrico, já o incômodo da cabeça…
Quando Carlos tira férias, ele adora sair da rotina, não ter horário para nada, perder a noção do tempo. Percebe como faz falta ouvir essa intuição, essa vozinha que mais alta ou mais baixa, sempre está lá com ele e que o guia para as coisas que realmente fazem sentido lááááá no fundo, embaixo de todas as premissas do que ele DEVE ou não fazer, como ele DEVE ou não agir!
Nesses momentos, Carlos faz planos, se enche de esperança, energia, satisfação. Não precisa fumar tanto, nem comer tanto. Ele está preenchido com outras coisas.
Mas aí, quando as férias vão acabando, Carlos começa sentir a sensação do domingo a noite (multiplicada por mil) e quando menos percebe, subitamente a rotina o engole. Ele deixa, afinal, já sabe lidar com aquele cenário. Aquela zona de (des)conforto, velha conhecida..
Pois é, tenho certeza que vocês conhecem vários Carlos! Eu conheço, as vezes sou um!
O que nos faz ficar presos à comportamentos e hábitos, mesmo que esses não tragam mais entusiasmo, benefício, alegria, contentamento? Por que ignoramos tanto essa vozinha que, soterrada por muitos imperativos sociais-familiares-culturais, nos traz a informação genuína do que realmente nos faria bem e felizes?
Nós teimamos em não ouvir, em achar maneiras de tamponar essas questões tão importantes. Sair da zona de conforto é muitas vezes necessário para que a gente dê um pausa nos comportamentos compensatórios, redundantes, que nos fazem muitas vezes, robôs.
Existem “Carlos” que estão muito bem, obrigada. Que gostam da rotina, se adaptam muito bem à ela estão seguros e felizes com suas escolhas e hábitos.

Porém, existem outros “Carlos”que se questionam muitas vezes sobre suas escolhas (que as vezes nem sua foram), se sentem presos e incomodados com essa rotina e tem que achar uma forma mais eficaz de lidar com esse desconforto.

SE PERMITA OUVIR, não precisa agir, apenas perceba. E se for preciso agir, sair da zona de (des)conforto. É MUITO difícil ultrapassar essa barreira, mas quando conseguimos, percebemos que fazíamos um ratinho parecer um elefante, pois estávamos olhando a projeção dele na parede e não o seu tamanho real. As coisas começam a fazer mais sentido.

Quando nos ouvimos e temos vontade de mudar, podem surgir sentimentos controversos. Não precisa ser uma mudança drástica de estilo de vida. Pode ser um hábito que já está impregnado e você quer mudar mais não consegue: fumar, beber, comer demais ou de menos, fazer esporte, fazer um outro curso, sair de um relacionamento…. Na maioria das vezes é importante ter ajuda (de amigos, família, psicólogo, nutricionista ou de quem julgar mais adequado) para conseguir sair dessa “zona”!
Espero (e acredito) que eu, você e o Carlos tenhamos cada vez mais coragem de sair da zona de conforto quando sentirmos que é preciso, para então ver a mágica acontecer!
Boa semana…


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